sábado, 21 de agosto de 2010

A Irônica Sinceridade da Nossa Política

Como passa rápido! A tão badalada (desta vez sem muitos badalos) Copa do Mundo já é carta fora do baralho e adentramos em tempos de política. E é incrível como descobrimos nossas controversas realidades nessa época. Os horários eleitorais gratuitos - que acabam saindo caríssimos ao eleitor no final das contas - estão repletos de mega produções. Assistimos ao programas dos candidatos do governo e descobrimos que estamos vivendo em um paraíso. Que maravilha! Nosso Brasil não tem mais violência. Saneamento básico agora é regra e ninguém pode mais reclamar. A saúde então, que beleza! O negócio é dar continuidade. mas logo depois começa a sessão de terrores da oposição. De imediato descobrimos que estamos vivendo no inferno e não sabíamos. Tudo piorou de oito anos pra cá! A corrupção aumentou em mensalões e mensalinhos. As cuecas viraram cofres íntimos. E você está prestes a morrer de fome. Abra o olho! Mas há pouco não estava tudo bom?
Nossos candidatos não têm opinião. O partido sim, tem opinião! Pouco se importa com a verdade, seja ela o bom cenário contado, o péssimo cenário, ou o intermediário e, provavelmente, o real. Não dá para observar sinceridade em nada do que se vê nesses programas. Aliás, minto! Este ano eu vi sinceridade, por incrível que pareça, em um candidato! Um velho conhecido de todos nós: o palhaço Tiririca! É verdade! Eu não estou ficando maluco! Vamos aos fatos. Em uma de suas inserções ele diz "vote no Tiririca, pior do que está não fica". Há alguma mentira nesta afirmação? Ou você acredita que os candidatos que lá estão fazem mais do que este figura faria? Em outra inserção, ele lançou a pérola "O que faz um deputado? Eu não sei, mas vote em mim que eu ganho e te conto.", que beleza. Vamos listar os candidatos a deputado. Percentualmente,
quantos dos candidatos a deputado você acha que sabiam, antes das eleições, a real função de um deputado? Prosseguindo, em outro momento do programa, ele diz que quer ajudar aos mais necessitados, inclusive sua família. Depois, termina pedindo para votarem no abestado. Está gozando da cara dos eleitores! Será? Qual deputado que não está lá para beneficiar seus familiares e, por tabela, seu bolso? E mais, quem de todos os tantos abestados que se candidatam tem coragem de admitir que realmente o são?!
A realidade é dura, mas deve ser encarada. O único candidato sincero e menos perigoso que vi até o momento é o lendário Tiririca. Afinal de contas, a grande maioria dos outros candidatos poderiam dizer o mesmo, mas preferem tentar enganar seus eleitores, passando por intelectuais e preparados. Com estes que devemos nos preocupar! Nesta nossa política das mentiras, o único que diz a verdade é o palhaço. Acho que o mundo político brasileiro vive uma inversão de valores! Pense nisso!

Para Ludovicenses: Um Dia na Vida de Reginete

Reginete, a empregada da casa do Vieira, chega da Rua Grande toda querendo ser, de traca amarela, uma japonesa bandeirosa com pontuação 2 números acima da sua, rebolando e exibindo sua calça nova, daquelas bem apertadas e lá no rendengue, que comprou para sair à noite. Logo gerou um bafafá das invejosas de plantão.
- Olha a barata do Vieira. Quer se aparecer! Tá escritinha uma fulêra!
- E tu parece uma nigrinha dando conta da vida dos outros – retruca à mulher Seu Barriga, que estava só coíra descansando em um pequeno mocho na porta de casa.
Porém, despertou também o interesse de toda a curriola da rua. A galera do chucho parou para secar a moça. Até quem tava no desafiado. Guga largou de empinar seu papagaio aos gritos de "lá vaiii lá vaiii...", batendo tala, mas sempre na guina para lancear melhor e com uma bimbarra do freio reforçada e linha puída pelos amigos que o sabotavam pisando disfarçadamente, para admirar:
Éguass Reginete! Tá pintosa como quê!
Hmmmm piqueno. O que é heim? Só porque tô com minha calça nova? Comprei na Lobrás ontem tá?!
Victor, garoto que vivia cheio de curubas nas mãos por causa de suas carambelas no asfalto, desinformado, questiona:
- O que é Lobrás?
- É uma loja, abestadoAo pegado da Mesbla. Defronte as Pernambucanas. Onde a gente vai sempre capar bombom – corta Guga.
Nesse momento, Caverna, o mais delegado das peladas, largou sua curica, feita de talo de coqueiro e folha de caderno, e veio, catingando que só ele, arrumar cascaria com Guga.
- O quê que tu quer?! A nêga é minha.
Hmmmm tu quer te amostrar pros teus pariceiroTe dôle um bogue!!!
- Me dáli??? Rapá, tu não me trisca!!!
E a galera vem zilada jogar lenha na fogueira.
Éééésseeeeee!!! Tá falando da tua mãe!!! Chamou de qualhira!
Ééélasss... eu não deixava!!! Cospe aqui – diz Dudu, que só andava na calha, estendendo a mão.
Mas Guga não entra na conversa dos amigos:
- Rapá, negada só querem ver a caveira dos outros!
- Ihhh gelão... cagou ralo heim Guga!!! Tá aberando!!!
Até que chega Lombo, o mais velho da turma, que jogava peteca naquele momento. Ele tinha o costume de quebrar as petecas alheias na brincadeira do cai, dando um china-pau com seu cocão de aço, principalmente se fosse numa olho de gato. Utilizava, também, o recurso do olhinho, mas dificilmente só bilava. Pediu limpo, completou matança nas borrocas e depois foi pro casa ou bola. Às vezes porco ou leitão visitando. Ele intervem gaguejando:
Ê Caaaa-Caverna, tu tu tu já tá coisando os outros aí né?! Vai já levar um sambacu!
Hen heim. Vamo já te dar um malha – confirma Guga, aliviado com a intervenção de Lombo.
Hen heim – retruca Caverna imitando Guga com voz afeminada.
- Não me arremeda não!!! Olha o raspa!!!
- Ahhh... te lascar!!!
Depois do furdunço por sua causa, Reginete sai toda empolgada de lá e decide dar logo uma parada na quitanda da Zefinha, lembrando que seu Vieira havia pedido que ela comprasse alguns ingredientes para garantir o fim de semana, já que Dona Veridiana ainda não havia feito a Lusitana do mês.
- Oi Dona Zefa. Quero camarão seco pra botar na juçara da dona Veridiana e fazer arroz de cuxá. Me veja 3 Jeneves também, 2 quilos de macaxeira, um lidileite alimba, 2 pães massa fina e 4 massa grossa! Ahh... e uma canihouse pra eu fazer a base pra noite!
A senhora vai checar seu estoque no freezer e retorna:
Ê essa outra... só tem Jesus. Vais querer? Vais querer quantas mãozadas de camarão?
- Três tá bom. E pode ser Jesus sim.
Ao chegar em casa com as compras, seu Vieira repreende a moça:
- Tu fica remancheando pra trazer o cumê. To urrando de fome aqui já! Cuida piquena!! Vou só banhar e quando voltar quero ver tudo pronto.
- Ô seu Vieira... o senhor é muito desinsufrido! Já to arreliada com uma confusão dos meninos na rua. Não me aguneia! Confie ni mim que faço tudo vuada! O senhor sabe que...
- Já seiii... tá bom... aí fala mais que a nêga do leite. Eu heim?! – seu Vieira interrompe.
Neste momento chega Marquinho, filho do seu Vieira, com a equipagem da Bolívia Querida toda suja. Sinal de mais trabalho pra Reginete.
- Menino, olha essa tua roupa. Tava num chiqueiro era? Vai ficar encardidinha! Isso não sai não! E esses brinquedos?! Tudo esbandalhado! Aí não tem jeito! Olha... tá só o cieiro (ouceroto, como queiram)!
- Tava jogando travinha com os moleques! Não enche e me dá logo esse refri aí que to com sede.
Hum Hum. Isso é do seu Vieira!
Marrapá! Por quê?! Deixa de canhenguicepiquena!
- Deixa eu cuidar comigo que ainda quero sair hoje pra radiola no clubão! Vai rolar só pedra!
Passada a janta, Reginete já exausta lava a louça e reflete sobre seu evento da noite: “Já estou é aziada e as meninas não ligam. Amanhã começa mais um dia de trabalho e se sair hoje ainda fico lisa pro fim de semana!”. A moça muda de idéia segue sua rotina. Todos os preparativos para a noite foram em vão? Nãããã! O importante foi chamar a atenção e não se achar mais uma no meio da multidão!


Armando Piruca