A Ilha Agoniza...

Sou um ludovicense apaixonado por minha terra natal. Cumpridor de minhas obrigações e consciente dos meus deveres como cidadão. Por isso mesmo, não posso me calar diante da história que se constrói diante de nossos olhos. Temo que, num futuro próximo, o início deste milênio seja conhecido como o momento em que São Luis morreu. Isto mesmo! A cidade está caminhando para seu fim, para o caos.

Lembremos alguns fatos que vêm acontecendo nos últimos anos. Desde 2004, o Castelão, nosso grande estádio, está fechado. Estamos falando de um povo apaixonado por futebol, que já fez a segunda maior lotação do seu estádio num jogo local (Moto Club 3 x 1 Sampaio em 1987), contando com cerca de 95 mil pessoas. O mais curioso é que durante todo esse tempo, diversas notícias já foram veiculadas nos jornais sobre a reabertura do estádio, que nunca aconteceu. Revolta ainda mais, ver uma matéria de meados de 2010 do portal iMirante, que fala sobre o gramado do Castelão que já seria, naquele momento, um dos melhores do Brasil após alto investimento. Mas até agora, um ano depois, não houve nenhum jogo lá e certamente o super gramado não está mais adequado. Nosso dinheiro serviu de adubo para esta grama inutilizada! Mudando de tema. O aeroporto, ou “aerotenda”, já exibe um belo cartão de visita aos nossos turistas. O indivíduo chega, pega um taxi e já passa pelo trânsito caótico da cidade. A primeira impressão é que São Luis foi bombardeada na guerra contra o terror. Não há outra capital no Brasil que tenha pavimentação tão ruim. E as repetitivas lembranças nos telejornais sobre as condições das ruas não comovem as autoridades. Nada é feito e tudo é culpa da chuva. Eles se esquecem de falar da qualidade do asfalto por eles utilizado. Não bastasse isso, a Companhia de Águas do estado ainda faz questão de destruir onde o asfalto está bom sem recuperar depois do fim do serviço. Mas enfim, passado este tormento, o turista chega ao seu hotel. No dia seguinte, decide passear no Centro Histórico da cidade Patrimônio da Humanidade. Que beleza! É só uma vez. Ninguém que visite hoje o nosso centro histórico volta lá, se não for por obrigação. A grande maioria dos casarões está em estado deplorável. Grandes crateras nas ruas e becos do centro expõem esgotos e exalando um mau cheiro insuportável. É difícil até de achar pontos para se tirar uma boa foto. Digo isso por experiência própria, recentemente tive a difícil tarefa de apresentar as belezas do nosso centro histórico a turistas. Confesso que fiquei envergonhado. Banheiros públicos ou lixeiras já fazem parte das lendas da cidade.  A fonte do Ribeirão tenta resistir aos efeitos do tempo bravamente. A Pedra da Memória, na Av. Beira-mar, sintetiza bem o valor que nossas autoridades dão à memória do Maranhão. Pobre Dom Pedro II... sua pedra está repleta de pichações e tapumes que isolam a área por anos. Os famosos bustos das grandes personalidades maranhenses na Praça do Pantheon nem estão mais lá. A prefeitura retirou, alegando ataques de vândalos. Realmente, Sr. Prefeito, a segurança na cidade não está garantida nem a estátuas de bronze, quanto mais à população. Até novas modalidades de assalto já são rotina. Deve ser o efeito da globalização. A educação nos orgulha com os piores índices do país de analfabetismo. A saúde não funciona nem na rede particular. Afinal de contas, em qual cidade estou morando???

De “Atenas Brasileira” e “Ilha do Amor”, São Luis passa por uma metamorfose regressiva. Já foi marcada por “Jamaica Brasileira” e as previsões não são animadoras. Já me preocupo que um dia São Luis venha a ser conhecida por “A Cidade Lua” (por conta dos seus buracos) ou “Velho Oeste”, que não seria nenhum exagero. Hoje, vejo propagandas do Governo ou matérias jornalísticas que convidam os brasileiros ao Maranhão em amplitude nacional e me pergunto se uma pessoa que visita uma cidade à beira do colapso, onde nada funciona, voltaria outra vez ou recomendaria a um amigo que a visitasse também. Claro que não! Receber turistas com a cidade abandonada como está não é um bom negócio definitivamente. A cidade está agonizando. Pedindo socorro. O que podemos fazer agora? Lamentar, protestar e aprender a votar. Isso porque os nossos vereadores mal têm instrução para saber cobrar ou o que fazer. São todos desinteressados e/ou ignorantes (a maioria líderes comunitários ou sanguessugas de família de políticos). Ah, você pode fazer mais uma coisa: por favor, trate bem o visitante. Mostre educação e a tradicional receptividade e calor humano do maranhense. Garanto que corrupto algum vai tirar isso da gente!

Armando Henrique